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Alquimia

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A alquimia medieval foi uma arte que teve o seu auge no século XIII, quando diversas obras árabes foram traduzidas para o latim -  É nesta época em que houve um forte intercâmbio intelectual entre o mundo muçulmano e a cristandade latina.

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Pode-se destacar duas obras árabes - dentre várias - das quais foram traduzidas para o latim: “De congelatione”, de Avicena - que na verdade, é um capítulo de “O Livro da cura”, de mesma autoria - e “Os tratados de Geber”. Destas obras, surgiram várias outras em resposta, a maioria criticando e realizando contraposições sobre as ideias de Avicena, que em diversas situações, eram contra a Alquimia. Algumas dessas “obras-resposta”, foram compostas pelos seguintes autores: Vicente de Beauvais, Alberto Magno e Roger Bacon – todos escolásticos e conhecidos por outras obras, sendo os dois primeiros frades dominicanos e o último um filósofo e teólogo.

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Os primeiros vestígios escritos sobre alquimia datam de 300 A.E.C, na região da atual China, tendo chegado ao Egito em poucos séculos, ainda no período Helenístico (305 A.E.C - 30 A.E.C). Algumas ideias desenvolvidas nessa faixa de tempo estariam presentes nos escritos alquímicos medievais - ideias como as de processos alquímicos, em que as fases nas quais uma substância passa ao ser transmutada seriam aplicadas também a criaturas vivas (servindo assim de analogia para ao ser humano). Dessa forma, era dito que os metais, ao serem transmutados, passavam pela “tortura”, pela “morte” e pela “ressurreição”, chegando a perfeição, ao ouro, a carne dos deuses para os egípcios na Antiguidade.

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Essas ideias parecem ter sido assimiladas de certa forma, embora não totalmente, ao cristianismo. Em algum momento, passa-se a associar as etapas e colorações que ocorriam ao longo do processo alquímico - a coloração negra, o branco, o amarelo e o  vermelho - ao trabalho do alquimista, a busca da perfeição, a “tortura”, a “morte” e a “ressurreição", a redenção do mesmo. Sendo assim:

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  • Preto (nigredo - “corvo negro”/morte);

  • Branco (albedo – “pomba branca”/ressurreição);

  • Amarelo (citrinitas - ”restauração dos espíritos fugitivos ao corpo”);

  • Vermelho (rubedo - ”adição do espírito e elevação do elemento”).

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O ponto mais alto da alquimia no período medieval era, sem dúvida, a produção do “Elixir”, ou “Pedra Filosofal”, um composto que poderia tornar o metal que tocasse em ouro, “purificando-o”, e trazer a imortalidade, purificação, ou mesmo, equilíbrio e perfeição a pessoa que a possuísse. Muito do que se lia e produzia sobre alquimia era baseado nos quatro elementos teorizados por Aristóteles: fogo, terra, ar e água, bem como nos humores ou fluidos corporais – bílis amarela e a bílis negra, sangue e fleuma. Os humores e os 4 elementos constituíam o corpo humano, que estaria sendo corrompido constantemente, assim estando em desequilíbrio. A Pedra Filosofal, ou Elixir, poderia equilibrar todas essas variáveis, levando a pessoa a perfeição. Outro sentido dado a Pedra Filosofal, foi “revelado” por Jean de Roquetaillade (1310-1365), um monge franciscano francês, que dizia receber visões de Deus. Jean escreveu que a Pedra Filosofal tinha de ser produzida, pois seria de benefício para a comunidade cristã quando o “Anticristo” chegasse e o “Apocalipse” acontecesse. A Pedra, portanto, seria usada para enriquecimento e fortalecimento da Igreja, e para a purificação dos cristãos.

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Um composto semelhante à Pedra Filosofal e fortemente abordado por Jean, era a “Quintessência”, ou “Quinto Elemento”. Para Jean, esse seria um pedaço dos céus, um elemento “sobrenatural”, que constituiria todo o mundo celestial supralunar. Um lugar que, assim como o elemento, era incorruptível.

Essa última característica, conforme Jean pontua, dizia que se manifestava e se espalhava no mundo terrestre. Apesar de ser “sobrenatural” e celestial, poderia ser encontrado em todas as coisas terrestres, tanto orgânicas quanto inorgânicas - mesmo estas estando sujeitas a corrupção.

Diversas discussões regiam essa arte da alquimia, sendo algumas delas o uso da astrologia em procedimentos médicos e alquímicos, a transmutação de metais, especialmente o ouro – e se seria legal comercializá-lo se fosse transmutado –, a capacidade do intelecto do homem sobre a natureza, os avanços da tecnologia e as falsificações. As falsificações e a discussão sobre a comercialização de ouro transmutado foram assuntos que chamaram a atenção de figuras da Igreja como o Arcebispo de Burges, Giles de Roma, São Tomás de Aquino e até mesmo do próprio Papa João XXII (1244-1334).

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No século XIV, temos curiosos acontecimentos: algumas pessoas, incluindo figuras religiosas e políticas, começaram a patrocinar alquimistas para que pudessem transmutar ouro, assim aumentando sua fortuna. Temos o caso do Arcebispo John, que seguindo uma história de um antecessor chamado apenas de Werner, que estava na busca por um tesouro, acabou por contratar um alquimista croata para lhe ajudar, mas este acabou fugindo. Acredita-se que o Arcebispo John tenha gasto 30.000 florins.

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No século XV, tem-se o declínio da alquimia, começando com o fim das relações entre Oriente e Ocidente, surgimento de autores de menor destaque, assim como obras que também não apresentavam nenhuma inovação ou contraposição diferente.

 

REFERÊNCIAS

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THORNDIKE, Lynn. '''History of Magic and Experimental Science.''' Volume 3, The Fourteenth and Fifteenth Centuries, part. 1, 1934, p. 32-38.

 

THORNDIKE, Lynn. '''History of Magic and Experimental Science.''' Volume 4, The Fourteenth and Fifteenth Centuries, part. 2, 1934, p. 175-187.

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NEWMAN, William. Tecnologia e debate sobre alquimia na Baixa Idade Média. '''Revista Signum''', Vol. 17, n. 1, 2016.

 

ELIADE, Mircea. '''Ferreiros e Alquimistas''', 13. Alquimia e iniciação. Relógio d’água, 1987, Vol. 1, 1987.

 

PEREIRA, Michela. Alchemy and the Use of Vernacular Languages in the Late Middle Ages, '''Speculum'''. Vol. 74, n. 2, Abril/1999, p. 336-356.

 

DEVUN, Leah. Prophecy, Alchemy, and the End of Time - John of Ruperscissa in the Late Middle Ages, 4. '''Alchemy in Theory and Practice''', Columbia University Press. New York, 2009. p. 59-79.

HANEGRAAF. W. J.; FAIVRE, A.; VAN DER BROEK, R.; BRACH, J. P. '''Dictionary of Gnosis & Western Esotericism, Alchemy I''': Introduction, Alchemy II: Antiquity-12th century. Universidade de Leiden, Leiden, 2006, p. 12-34.

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Sobre o autor do verbete: Gabriel Reolon foi graduando do Curso de história na UFSM e integrante do Virtù nos anos de 2016, 2017 e início de 2018. E-mail: gabrielreollon@gmail.com

Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/1621233930304359

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