Literatura na Idade Média

O que conhecemos hoje como literatura demorou a ser construído com os atuais aspectos. Para nós, essa palavra é associada a histórias escritas, fantasiosas ou não, que têm como primeiro objetivo entreter quem as lê.
Originária do latim littera (letra), a palavra literatura (litteratura), na Idade Média, tinha um sentido semelhante a gramática (grammatica) ou a leitura comentada dos autores que proporciona conhecimento. Isto está ligado a uma aptidão em escrever e transmitir os saberes por meio de textos (Le Goff, 1999).
Um texto literário, no período, podia ser desde livros sobre conhecimentos específicos até manuscritos de poesias cantadas em feiras, podendo ser tanto em línguas vernáculas quanto nas demais. Além de transmitir conhecimentos, essa escrita tinha um objetivo muito ligado à preservação da memória.
A literatura medieval pós-reforma carolíngia na Europa ocidental apresenta a característica de estar projetada no passado. Histórias como as canções de gesta (contando o passado carolíngio), lendas arturianas, lendas heroicas germânicas, Sagas e Eddas, foram escritas com o objetivo de preservar um passado importante de modo que o mesmo não ficasse somente na oralidade. Isso era válido também para poesias e músicas, sendo que nestes casos a escrita servia tanto de memória quanto de apoio.
Outra importante atividade literária eram os comentários reflexivos sobre os antigos filósofos, feitos principalmente por clérigos. Também devemos lembrar dos textos como as hagiografias (biografias descritivas da vida de santos e santas), hinos e liturgias, destinados a serem didáticos. Para isso, podemos citar a Legenda Áurea, um famoso compilado das histórias dos beatos cristãos, escrito em meados do século XIII pelo dominicano Jacopo de Varazze, usado para ensinar para a população a vida dos cânones cristãos.
A partir do século XII, o Trovadorismo, partindo da Península Ibérica, começa a se espalhar pela Europa. Seus poemas líricos e satíricos procuravam exaltar o cavaleiro medieval, a corte, o romance impossível, a devoção extrema dos homens pelas mulheres e o escarnio. Muito da visão contemporânea idealizada de Idade Média se deve aos contos trovadorescos.
Ao contrário do que se costuma pensar, a literatura medieval não é fictícia conforme os moldes atuais. As obras não eram escritas para serem somente voltadas para o entretenimento. Seu principal objetivo era salvaguardar nos textos o passado ou presente juntamente a visão de quem as escreve, essa visão sendo intencional ou não.
Tais aspectos culturais permitem aos pesquisadores estudar as obras escritas e, a partir delas, inferir cada vez mais características do período como arte, cultura, religiosidade, algo de extrema importância na compreensão da história. Desta forma, é possível concluir que a literatura da época possui historicidade à medida que seus textos traziam consigo uma carga cultural muito grande e também uma preocupação com a preservação das histórias escolhidas como importantes à memória de determinados povos.
Referências:
LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Literatura (s) in. Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC, São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado, 2002. 2V
SANTOS, Lyndon de Araújo. História das Religiões e Literatura Medieval: um exercício hermenêutico. In. Literatura e história antiga e medieval: diálogos interdisciplinares. ZIERER, Adriana; FEITOSA, Márcia Manir Miguel. São Luís, MA: UDUFMA, 2001.
Sobre a autora do verbete:
Eduarda Boufleuher da Silva é graduanda em História Licenciatura pela UFSM e faz parte do Grupo de História Medieval e Renascentista-Virtù.
E-mail: edu_boufleuher@hotmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9529986515096888