top of page

Sisto IV

1916.815_web.jpg

Sisto IV (1471 – 1484), nascido Francesco Della Rovere (1414 – 1484), cresceu em uma família humilde em Celle, nos arredores de Savona. Durante a juventude fez parte da Ordem Franciscana, onde foi professor de filosofia e de teologia em várias universidades da Península Itálica (MONGE, 2016, p. 426). Em 1464 foi nomeado superior geral da ordem, três anos depois ele foi nomeado cardeal e quatro anos depois, eleito papa, tomando o nome papal de Sisto IV. Segundo o historiador estadunidense John W. O’Malley (2011, p. 174), ele foi escolhido pela menor margem necessária, de dois terços, doze votos em dezoito.

​

O pontífice renunciou a origem franciscana pelo esplendor do mecenato, visto que, segundo o historiador irlandês Eamon Duffy (1998, p. 142 – 143), Sisto IV gastou um terço da renda papal anual para confeccionar a tiara que usou durante a sua coroação. Desse modo, ele rapidamente abdicou da puída roupa franciscana e a vida simples para dar continuidade a campanha de reconstrução de Roma, iniciada pelo papa Nicolau V (1447 – 1455). Conhecido como “restaurator urbis” (CHASTEL, 1991, p. 278), Sisto IV investiu na reforma e construção de pontes; de ruas; do hospital de órfãos de Santo Spirito, no Borgo; da igreja de Santa Maria del Popolo; do mansoléu da família Della Rovere; além da construção e decoração da capela Sistina (GOMBRICH, 2012, p. 307).

​

A ornamentação interna da capela foi confiada a um grupo de artistas de Florença e do centro da Península Itálica, entre eles: Pietro Perugino (1446 – 1523), Pinturicchio (1454 – 1523), Ghirlandaio (1449 – 1494), Luca Signorelli (1445 – 1523), Cosimo Roselli (1439 – 1507) e Sandro Botticelli (1445 – 1510). De maneira que, entre 1481 e 1482, todos trabalharam simultaneamente com seus aprendizes em dois conjuntos de afrescos que retratavam passagens da vida de Moisés e da vida de Jesus, os chamados Ciclo da vida de Moisés e Ciclo da vida de Jesus. Além das representações figurativas de passagens do Antigo e do Novo Testamento, as paredes foram decoradas com afrescos que imitam pesadas cortinas brocadas e entre as janelas há 28 nichos com retratos dos papas dos três primeiros séculos. Posteriormente, nos primeiros anos do século XVI, durante o pontificado de seu sobrinho, Júlio II (1503 – 1513), o artista Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564) foi convidado para decorar o teto da Capela Sistina. Assim, entre 1508 e 1512, Michelangelo pintou um arranjo iconográfico, retratando temas como a Criação Divina e a Queda do Homem, além de outras cenas do Livro do Gênesis. O afresco foi exposto ao público pela primeira vez no dia de Todos os Santos de 1512. Posteriormente, o artista retornou a pedido do papa Clemente VII (1523 – 1534). A encomenda papal visava à decoração do altar da capela, porém o pontífice não viveu para ver o artista iniciar o afresco, mas o contrato foi ratificado pelo papa Paulo III (1534 – 1549). Então, entre os primeiros esboços em 1535 e o término em 1541, Michelangelo trabalhou em uma vasta composição escatológica intitulada “O Juízo Final” (NÉRET, 2006, p. 72).

​

Mas, retornando ao período pontifical de Sisto IV, a consagração da capela aconteceu em 15 de agosto de 1483. Ela deveria ser o local onde se realizariam missas, reuniões do papa com o colégio de cardeais e as eleições papais. O projeto arquitetônico foi confiado ao arquiteto e escultor Baccio Pontelli (1450 – 1492). Ele também participou ativamente de outras reformas urbanistas empreendidas por Sisto IV. Pois, em função do Grande Cisma (1378 – 1417), Roma ficou abandonada por anos, um reflexo da ausência prolongada dos papas. Assim, após o término desse evento, alguns pontífices tomaram para si a tarefa de reinventar e reconstruir Roma, o lugar onde o representante de Deus deveria estar. Dessa maneira, a partir da prática do mecenato, Sisto IV financiou arranjos iconográficos, projetos arquitetônicos e escultóricos. Ele também concluiu a instalação da Biblioteca do Vaticano, projeto que teve início com o papa Nicolau V (DUFFY, 1998, p. 144). Além de ser patrono das artes, ele foi mecenas das letras, nomeando o bibliotecário e humanista Bartolomeu Platina (1421 – 1481) para que cuidasse do acervo. Sisto IV deu para Platina suporte financeiro, e esse ampliou a coleção de livros da igreja.

​

Para além da patronagem papal, Sisto IV intensificou a prática do nepotismo, de modo que ele promoveu diversos parentes e tratou de casar outros com filhas e filhos de grandes famílias italianas de Nápoles, Milão e Urbino (DUFFY, 1998). O pontífice tornou cardeal seis nepotes, entre eles Giuliano Della Rovere, que, no início do século XVI, será eleito papa, adotando o nome de Júlio II. Os cardeais nomeados por ele também acumularam benefícios, outorgados por Sisto IV, por exemplo, Giuliano Della Rovere era “arcebispo de Avignon e de Bolonha, bispo de Lausanne, Coutances, Vivier, Menda, Ostia, Velletri e abade de Nonantola e Grottaferrata, além de fruir de vários benefícios menores” (DUFFY, 1998, p. 148). A estratégia dos pontífices renascentistas ao promover parentes ao cardinalato era uma maneira de garantir apoio, colaboração e suporte para proteger alguns dos interesses do papa. Além do mais, ao conceder poder aos seus parentes, eles garantiam uma rede de influência e autoridade, a fim de sustentar sua posição e a manutenção de seu poder.

​

Sisto IV foi atuante na política externa, se envolvendo em assuntos temporais e seculares, de modo que durante seu pontificado organizou uma armada contra os turcos, todavia não houve empenho das demais potências europeias. Ele também autorizou o rei Fernando II, da Espanha, a instaurar o Tribunal da Inquisição, porém pouco depois, em 1482, o papa emitiu uma bula colocando um fim na Inquisição Espanhola, pois esse tomou conhecimento dos métodos bárbaros usados contra os hereges. Contudo, devido a pressões do rei, em 1483, o pontífice acabou retirando a bula. Além disso, durante seu pontificado desenvolveu relações tensas com o rei francês Luís XI, porque a Pragmática Sanção de Bourges, de 1438, “tirava ao Pontífice o direito de nomear bispos franceses, atribuindo-os às catedrais e aos conventos, e eliminava os contributos a pagar à Santa Sé, enquanto Sisto IV continuava a reivindicar para si os direitos” (MONGE, 2016, p. 426).

​

Na política interna, garantiu muitos privilégios para as ordens religiosas, especialmente os Franciscanos. Sisto IV também foi envolvido na conspiração de Pazzi, uma vez que os protagonistas dela foram seu nepotes Pietro e Girolamo Riario. A intriga política tinha como objetivo assassinar Lorenzo de Medici e seu irmão, Giuliano, durante uma missa conduzida pelo papa, em 1478. “Lorenzo escapou dos assassinos; Giuliano não teve tanta sorte. Não está claro se Sisto sabia que o assassinato era a peça essencial na conspiração, mas Girolamo certamente sim” (O’MALLEY, 2011, p. 174 e 175, tradução nossa). Destacamos ainda que “Francesco Patrizi (1412-94) dedicou sua pormenorizada análise Do reino e da educação do rei, redigida na década de 1470, ao papa Sisto IV” (COSENZA, 1962, p. 1345 apud SKINNER, 1996, p. 138). Em seu “espelho de príncipe”, Patrizi aconselha quais deveriam ser as práticas para alcançar a glória, a fama e a imortalidade de seu nome. Por fim, Sisto IV “foi um típico Pontífice do Renascimento: culto, amante das artes, mecenas, mas também nepotista. O seu pontificado transformou Roma de uma cidade medieval em cidade do Renascimento” (MONGE, 2016, p. 426). Morreu em 1484 e foi “sepultado nas Grutas Vaticanas, num monumento fúnebre que foi obra de Pollaiolo” (MONGE, 2016, p. 426).

 

Referências Bibliográficas

​

CHASTEL, André. A Arte Italiana. Tradução Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora LTDA, 1991.

DUFFY, Eamon. Santos e Pecadores: história dos papas. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.

GOMBRICH, E. H.. A História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

MONGE, Roberto. Dois mil anos de papas de São Pedro a Francisco. Tradução Maria do Carmo Abreu. Alfragide: Casa das Letras, 2016.

NÉRET, Gilles. Michelangelo: 1475 – 1564. Tradução Fernando Tomás. Alemanha: Taschen, 2006.

O´MALLEY, John W.. A history of the popes: from Peter to the present. United States of America: Rowman & Littlefield Publishers, Inc, 2011.

 

Sobre o autor do verbete:

Jordana E. Schio, é mestranda do Curso de história na UFSM e integrante do Virtù.

E-mail: jordanaschio06@gmail.com

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3602844717231875

bottom of page