top of page

Nicolau Maquiavel

Portrait_of_Niccolò_Machiavelli_by_Santi_di_Tito.jpg

Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) foi filósofo, historiador e diplomata florentino. Começou na vida pública em 1498, como secretário e segundo chanceler da República florentina. Ficou muitas vezes encarregado de missões diplomáticas, tanto pela Península Itálica quanto fora dela. Maquiavel viajou, por exemplo, algumas vezes até a corte de Luís XII (1498 – 1515), na França; em outra oportunidade foi até a Romanha, onde conheceu Cesare Borgia (1475 – 1507). Todavia, quando Florença sofreu o golpe da família Medici, Maquiavel foi retirado de sua função e banido da cidade. Afastado da vida pública, o florentino se recolheu com sua família em uma propriedade rural, perto de San Casciano (CHEVALLIER, 1999, p. 22). Durante esse exílio, Maquiavel se dedicou ao estudo e a redação do manuscrito intitulado por ele como De Principatibus (Dos Principados). A obra refletia sobre a essência dos principados, as suas formas, de que maneira devem ser conquistados, conservados e expandidos (CHEVALLIER, 1999, p. 23).

O título Il Principe foi dado pelo editor Antonio Blado (1490 – 1567) (MIORANZA, 2006, p. 10), O Príncipe foi publicado pela primeira vez postumamente, em 1532. Maquiavel havia dedicado o manuscrito a Lorenzo de Medici (1449 – 1492), conhecido por seus contemporâneos como Lorenzo, o Magnífico.

Maquiavel dedicou a obra a um membro da família Medici e ofereceu uma fórmula básica sobre a maneira que ele deveria agir para conquistar, consolidar e fortalecer seu principado e manter o poder obtido (CHEVALIER, 1999, p. 41). O seu manuscrito era um manual de instruções sobre como governar e uma literatura dedicada ao príncipe. Nele Maquiavel aconselhava sobre como usar a força para conquistar e manter os territórios, orientava também sobre a forma conforme a qual o príncipe deveria agir para ter controle dos meios de coerção. O florentino escreveu sobre como o objetivo elementar de um príncipe, a guerra, a sua organização e a disciplina deveriam ser prioritárias, pois essa era a única coisa que importava para o soberano (Nicolau MAQUIAVEL, 2006 [1532], p. 73).

Além disso, Maquiavel reforça ao longo do livro que o príncipe não deveria desviar o seu pensamento do exercício do combate, e mesmo durante períodos de calmaria e paz, os conflitos e as estratégias militares deveriam ser pensadas, pois ele precisava estar preparado para ela (Nicolau MAQUIAVEL, 2006 [1532], p. 74). Segundo o historiador britânico Quentin Skinner (1996, p. 151) Maquiavel deu ao longo d’O Príncipe muita importância para a força e o poder de coerção, e o papel que isso deveria ter nos assuntos do governo, tanto que ele dedica três capítulos ao assunto. No Capítulo XXI, intitulado O que convém a um príncipe para ser estimado, Maquiavel orienta que um príncipe deveria se empenhar em construir a sua reputação a cada ação, demonstrando ser um homem de excelente ânimo (Nicolau MAQUIAVEL, 2006 [1532], p. 108). Ainda segundo Skinner, para que o príncipe alcance o mais alto grau de honra, fama e glória, Maquiavel aconselha que “nada é tão importante quanto manter as aparências” (SKINNER, 1996, p. 152).

O florentino também refletiu sobre as virtudes que o príncipe deveria cultivar e se seria melhor ser amado ou temido (Nicolau MAQUIAVEL, 2006 [1532], p. 84). Pois, o rei durante a Idade Média necessitava pensar no bem comum, enquanto que o príncipe renascentista era pragmático nas suas decisões (SENELLART, 2006, p. 21). Durante o medievo cabia ao rei o ato de governar a partir do regere, ou seja, do ato de conduzir (SENELLART, 2006, p. 20) não só sua família, mas o seu povo. Já durante o movimento Renascentista, o soberano deveria agir de forma dissimulada, a fim de conquistar e manter seu poder. Tanto que Maquiavel reflete que era mais seguro para o príncipe ser temido do que amado, quando não houvesse a opção de agir pelos dois vieses e precisasse optar (Nicolau MAQUIAVEL, 2006 [1532], p. 84). “Pois o elo do amor, raciocina ele, os homens ‘rompem-no sempre que disso lhes resulte vantagem’, ao passo que ‘o medo é reforçado pela ameaça do castigo, que sempre se mostra eficaz’.” (SKINNER, 1996, p. 156).

Além disso, Maquiavel informa sobre a melhor forma de atuar para manter a legitimidade, pois aquele que assume um principado com a ajuda de outros homens tem mais dificuldade de se manter no poder do que chega ao posto com o suporte do povo, pois os que ajudaram a elevar o príncipe ao poder possuem ambições semelhantes (Nicolau MAQUIAVEL, 2006 [1532], p. 53). Somado a isso, Maquiavel reflete ao longo do livro que o governante deve se esforçar para manter a sua autoridade, por isso deveria realizar grandes feitos e almejar elevado grau de honra, fama e glória (SKINNER, 1996, p. 155).

O Príncipe era a última chance de um funcionário desfavorecido voltar a vida pública. O manuscrito era uma “clara incitação ao novo príncipe, zeloso de conversar o que tiver adquirido por sorte, força ou habilidade, para que não continue a privar-se dos leais serviços de um homem de tanta penetração política – e para que faça voltar a Florença o secretário florentino (CHEVALLIER, 1999, p. 24). Todavia, Lorenzo não deu atenção ao manuscrito, além disso, a maioria dos contemporâneos de Maquiavel não se interessaram pela obra, seu impacto foi pífio entre os príncipes renascentista do início do século XVI (CHEVALLIER, 1999, p. 44).

Maquiavel retornou a vida pública, porém a sua fortuna não foi resultado do livro, mas da sua reputação como funcionário e hábil político. Em 1519, Maquiavel foi convidado pela família Medici para pesquisar e escrever o livro História de Florença. Assim, entre os anos de 1520 e 1525, o florentino recebeu um ordenado para narrar os eventos políticos-militares de Florença. O livro foi, posteriormente, oferecido para Giulio de Medici (1479 – 1534), eleito papa com o nome de Clemente VII (1523 – 1534). Giulio era primo de Giovanni de Medici (1475 – 1521), coroado papa Leão X em 1513 até o ano de sua morte, em 1521. Mesmo a serviço dos Medici (família que havia derrubado com um golpe a República florentina), Maquiavel acreditava na República.

Em 1527, a família foi expulsa de Florença e a República reestabelecida, mas, nesse mesmo ano, o filósofo florentino foi a óbito. Além da sua trajetória na vida pública, Maquiavel escreveu outras obras, como, A Mandrágora (1518), publicada somente em 1524. A peça teatral satirizava a corrupção e a ganância da sociedade italiana no início do século XVI. Entre 1513 e 1521, ele escreveu Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio (conhecida também como Discorsi). Nela Maquiavel refletiu sobre temas que diziam respeito às leis, a liberdade, as instituições políticas republicanas (KRITSCH, 2010, p. 27). O livro foi dividido em três partes “no primeiro, Maquiavel trata do funcionamento interno das repúblicas; no segundo, aborda basicamente questões militares; e, no terceiro, discute a ascensão e queda das repúblicas, isto é, da dinâmica dos Estados” (KRITSCH, 2010, p. 27). Segundo Skinner, “se, no Príncipe, sua preocupação principal consistia em moldar a conduta de indivíduos que eram príncipes, nos Discursos se empenha mais em oferecer conselho ao corpo inteiro dos cidadãos” (SKINNER, 1996, p. 204).

Destacamos ainda o tratado sobre estratégia militar escrito entre 1519 e 1520, intitulado A Arte da Guerra, são sete livros que abordavam temas como: a instituição militar e a vida civil, a organização do exército para as batalhas, a hierarquia militar e regras gerais sobre a guerra. Por fim, apesar do baixo impacto da obra O Príncipe quando foi publicado, isso se modificou com o desenrolar dos séculos. Logo após a contrarreforma da Igreja, o livro de Maquiavel foi condenado pelo Concílio de Trento e colocado no Index, pois alguns denunciavam que o livro havia sido escrito pela mão de um demônio. Porém, não havia nada de demoníaco na reflexão de Maquiavel, seu estudo dedicado a família Medici sistematizou conselhos que o príncipe deveria seguir para conquistar, manter e fortalecer seus territórios, de maneira que, com a ascensão do absolutismo, o livro se tornou um guia para os reis europeus. Além disso, O Príncipe foi e ainda é “uma obra quase sempre mais citada do que lida” (CHEVALIER, 1999, p. 48). Tanto que, uma máxima atribuída ao florentino e que estaria em uma de suas obras é: os fins justificam os meios, todavia não há registros que ele tenha escrito ou dito isso, sendo assim, erroneamente atribuída a Nicolau Maquiavel.


Referências Bibliográficas

​

BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade. Por uma teoria geral da política. Tradução Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas - De Maquiavel a nossos dias. Tradução Lydia Cristina. Rio de Janeiro: Agir Editora Ltda, 1999.

MAQUIAVEL, Nicolau. História de Florença. Tradução MF. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução Ciro Mioranza. São Paulo: Editora Escala, 2006.

MIORANZA, Ciro. Apresentação. In:______. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução Ciro Mioranza. São Paulo: Editora Escala, 2006, p. 09 – 10.

SENELLART, Michel. As artes de governar: do regimen medieval ao conceito de governo. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 2006.

SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

KRITSCH, Raquel. Maquiavel e a República: lei, governo legal e institucionalidade política nos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Revista Espaço Acadêmico, 10(113), 2010, p. 26-37. Acessado em http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/11332. 04 abr. 2020.

​

Sobre o autor do verbete:

​

Jordana E. Schio, é mestranda do Curso de história na UFSM e integrante do Virtù.

E-mail: jordanaschio06@gmail.com

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3602844717231875

bottom of page