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Arco Longo Inglês

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"Quando a primeira flecha atinge o alvo, a terceira está saindo do arco."

(Bernard Cornwell)

O Arco-e-Flecha é uma das armas mais antigas que o homem já criou. Vários povos de diferentes lugares ao longo da História o utilizaram para, entre outras coisas, a guerra, a exemplo das tribos pré-colombianas nas Américas, Assírios, Mongóis, Japoneses, entre outros. O que tornava o Arco Longo Inglês diferente dos demais era, entre outras coisas, suas características, como tamanho (entre 1,80m e 2,00m de altura), grande alcance (em média 200m), grande taxa de disparo (um arqueiro eficiente podia disparar até 15 flechas por minuto), e a grande quantidade de força necessária para puxar sua corda (entre 36Kg e 50Kg).

Essa arma na verdade não é essencialmente uma invenção dos ingleses, mas sim de um povo vizinho deles, os galeses. No século XIII o rei Eduardo I (1239-1307) da Inglaterra conquista o País de Gales, aceita que alguns galeses entrem para o seu exército e, dessa forma, o arco começa a ser adotado militarmente. De fato, inicialmente, a arma era chamada simplesmente de arco (bow). O mais antigo uso da expressão arco longo (longbow) aparece em textos do século XV e servia para diferenciá-lo da besta (crossbow). Mais tarde, com a sua popularização na sociedade inglesa, ela passa a ser conhecida como Arco Longo Inglês (English Longbow).

O arco, do Arco Longo Inglês, geralmente era feito de madeira de Teixo, Olmo ou Freixo, do qual se retirava uma ripa do tronco que contivesse o Cerne (parte mais dura) e o Alburno (parte mais macia) da planta. Ele possuía, nas suas duas extremidades, uma proteção feita de chifre onde se atava a corda. Esta era feita de várias fibras de Cânhamo enroladas e, previamente, mergulhadas em cola líquida, a fim de que ela se mantivesse úmida, caso contrário o fio poderia ficar quebradiço com o tempo e se romper prematuramente. Por fim, as flechas eram feitas com a madeira leve da árvore conhecida como Faia, com um comprimento em torno dos 70 centímetros, possuíam um grande diâmetro a fim de comportar pontas de flecha grandes e eram guardadas em sacos de linho ou lona, em feixes contendo entre 20 e 30 flechas.

O primeiro uso militar registrado do Arco Longo Inglês foi na batalha de Dupplin Moor (1332) que envolveu os ingleses contra seus vizinhos escoceses. A vitória nesse confronto é associada principalmente ao Arco Longo Inglês que, dessa forma, faz com que a presença de arqueiros no exército inglês se torne permanente. Seu uso em larga escala ocorre, sobretudo, durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), onde neutraliza a chamada carga de cavalaria, que os franceses utilizavam em combate, e que começa a cair em desuso. Isso porque ele era muito eficiente como forma de negar terreno aos inimigos, isto é, impedir os mesmos de avançarem durante as batalhas através da manobra conhecida como volley (saraivada ou descarga, em tradução livre), onde todos os arqueiros atiravam quase ao mesmo tempo e provocavam literalmente uma “chuva de flechas”.

O enorme número de arqueiros foi muito importante para as várias vitórias inglesas durante a Guerra dos Cem Anos, como em Caen (1346), Crécy (1346), Calais (1347) e, a mais famosa de todas, Azincourt (1415). Uma prova disso é que ao longo do conflito a proporção de arqueiros só aumentou, começando com 1 para 1 e depois chegando a 5 para 1, isto é, cinco mil arqueiros a cada mil homens que utilizavam outras armas. Porém esse não foi o único elemento determinante para essas conquistas, pois os invasores também contavam com um exército muito bem organizado, que sabia coordenar eficazmente arqueiros em posições defensivas auxiliados por homens em armas a pé ou a cavalo.

Cada comandante militar organizava seu exército de acordo com o terreno e o inimigo, mas havia alguns padrões de organização. O mais comum era organizar a infantaria pesada no centro do batalhão, a cavalaria nos lados (flancos) e os arqueiros na frente. Outro arranjo, adotado na batalha de Crécy (1346), fazia um formato de “V”, com os arqueiros nas pontas e o resto do exército no centro. Com isso, o inimigo era forçado a se encolher e ir direto para o meio das forças inglesas. Geralmente os ingleses se posicionavam em pontos mais elevados para maximizar o alcance dos arcos e fazer com que o avanço do inimigo fosse mais lento, já que o mesmo teria que subir o terreno enquanto era recebido por uma enorme quantidade de flechas ao mesmo tempo em que caíam em armadilhas montadas antes da batalha.

Desse modo, essa engenhosa criação medieval contribuiu decisivamente para mudar a forma de combate, desestimulando o uso da cavalaria e provando a grande efetividade das armas de longo alcance. Próximo ao fim da Guerra dos Cem Anos, porém, ela fica obsoleta diante das armas de fogo que começaram a se tornar eficientes em combates ao longo do século XV. Esse novo tipo de armamento era mais eficiente que o Arco Longo Inglês, pois era relativamente fácil de ser usado (ao contrário dos arcos que exigiam anos de treinamento), mais barato de ser confeccionado (pois a Inglaterra importava a madeira utilizada nos arcos) e era mais fácil mobilizar um exército de atiradores do que um de arqueiros, que, no século XV, estavam se tornando cada vez mais raros por motivos ainda não bem determinados pelos historiadores. Assim, ao longo do século XV os arqueiros e os arcos longos perdem espaço para as armas de fogo.

 

REFERÊNCIAS

BARTLETT, Clive; EMBLETON, Gerry. English Longbowman: 1330-1515. Londres: Osprey, 1995. 64 p.

KEEN, Maurice. Medieval Warfare: A History. Oxford: Oxford University Press, 1999. 340 p.

LANSING, Carol; ENGLISH, Edward D. A Companion to the medieval world. Chichester: Blackwell Publishing Ltd, 2009. 584 p.

MORILLO, Stephen et al. War in World History: Society, Technology, and War from Ancient Times to the Present. New York: Mcgraw-hill, 2009. (Vol.1). 334 p.

NICOLLE, David. Crécy 1346: Triumph of the Longbow. 2. ed. Oxford: Osprey Publishing, 2002. 96 p.

SACCOMORI, Guilherme Floriani. Arqueiros na Guerra dos Cem Anos: A Transição Militar da Baixa Idade Média. 2011. 49 f. Monografia (Especialização) - Curso de Licenciatura e Bacharelado em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. Disponível em: <http://www.humanas.ufpr.br/portal/historia/files/2011/10/caderno_resumos_2sem2011.pdf>. Acesso em: 08 set. 2017.

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Sobre o autor do verbete: Ramiro Paim Trindade foi graduando em História Licenciatura pela UFSM e fez parte do Virtù - Grupo de História Medieval e Renascentista. E-mail: ramiropaim@hotmail.com

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1986731414004428

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