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Peste Bubônica

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A Peste Bubônica, mais conhecida como Peste Negra, atingiu inicialmente a Europa em dois momentos: a primeira onda de peste se espalhou pela Europa entre os séculos VI até o século VIII, e o último surto aconteceu no ano de 767. Seis séculos depois ela voltou a Europa, em um segundo surto epidêmico, a partir de meados do século XIV, com as primeiras mortes em massa em 1348. Os surtos só diminuíram de intensidade e deixaram de ser temidos pelos europeus quanto o tifo, a varíola e a sífilis passaram a ceifar mais vidas humanas do que a peste. Assim, o medo que muitos sentiam em meados do século XIV, quando ouviam falar na doença, não é mais o mesmo alguns séculos depois quando parece ser possível sobreviver a ela. O último surto de peste no Ocidente aconteceu em 1720, em Marselha, na França.

Ela teve como origem o planalto central da Ásia, uma área onde era endêmica, isto é, se manteve lá isolada por século. Porém, no século XIV ela se espalhou por rotas terrestres e marítimas até chegar aos portos europeus. O porto de Gênova foi o principal pólo difusor dessa doença na Península Itálica, e posteriormente para todos os países europeus. Em 1438, além de Gênova, os portos das cidades de Veneza e Piza também foram pontos de propagação da Peste Bubônica. A única cidade que tentou se proteger da onda de morte foi Florença, localizada no interior da península.

O número estimado de mortos, durante a segunda onda de peste, varia muito, com valores estimados entre 2/3 até 1/8 da população. No momento em que ela manifestava os primeiros indícios a morte geralmente ocorria em poucos dias ou em até 24 horas, causando ao infectado muito sofrimento e agonia. Seus sintomas eram os bubões, que apareciam na região da virilha ou nas axilas, além de infecção intestinal e afecção pulmonar acompanhada de escarros de sangue.

Imaginava-se que a pulga que vivia nos ratos era o único vetor de transmissor da Peste Bubônica, mas pesquisas recentes apontam como outros transmissores os piolhos e as pulgas que viviam nas pessoas. O que é reforçado pelo que aponta o historiador Philippe Wolff, onde as iconografias produzidas na época indicam como sinal precursor da mortandade os ratos, até mesmo porque o raio de atuação desses animais não é grande, ficando restrita a pequenas áreas de circulação.

Ainda sobre a Peste Bubônica é importante destacar que ela se manifestava de duas formas diferentes: a peste bubônica e a peste pulmonar, sendo esta última contagiosa a partir do contato com secreções do infectado, evoluindo rapidamente e com poucas chances de sobrevivência.

Segundo o historiador francês Jean Delumeau, as pessoas que viviam nessa época tinham noção do caráter contagioso da Peste Bubônica, logo o isolamento e a fuga eram vistos como o melhor remédio. Mesmo assim cidades e aldeias foram atingidas, a disseminação foi geral, e até locais isolados foram infectados. Ainda segundo ele, as pessoas também buscaram por culpados, pois seria tranquilizador saber de quem era a culpa. Um grupo de pessoas eruditas culparam o ar e os fenômenos celestes pelo o avanço da doença. Alguns acreditavam que havia pessoas que voluntariamente espalhavam a doença, logo, era preciso encontrá-las e puni-las. Havia ainda, os que acreditavam que se tratava da irritação de Deus para com os pecados de mulheres e homens, e para aplacar sua punição era preciso fazer penitências.

Todos buscavam por culpados para tal sofrimento e desgraça, pois, se a epidemia era uma punição divina para os homens e as mulheres, era preciso encontrar o culpado. Assim, perseguições a indivíduos e grupos eram frequentes, pois eles iriam servir para purificar os pecados da coletividade. Os primeiros culpados eram os estrangeiros, os viajantes, os marginais e as pessoas estranhas a comunidade, como os judeus que também eram acusados de espalhar a peste. Na Catalunha, uma região ao leste da Espanha, os judeus foram acusados de semear a doença, e, por isso, foram perseguidos e massacrados ao grito de “morte aos traidores!”. No entanto, não se resumia somente a achar os culpados, só isso não era a solução para essa peste implacável, logo, houveram também as penitências coletivas e públicas, onde toda comunidade participava, buscando com isso impressionar o Pai Todo-Poderoso, para que esse olhasse por eles.

Isso também foi uma forma do clero controlar os fiéis, buscando tranquilizar e acalmar, além de reprimir os flagelantes, que foram grupos de pessoas que buscavam espiar os pecados fazendo automutilação. Pois, para a Igreja, a peste não era o fim, o Juízo Final, ela era interpretada como uma punição divina enviada dos céus para homens e mulheres pecadoras, assim, a cólera divina explicava o número cada vez maior de cristãos mortos. A peste também mudou a paisagem europeia, pois algumas cidades tiveram a população bastante reduzida, aldeias desapareceram, houve fugas por toda a parte, provocando uma variação demográfica em várias regiões da Europa. Isso tudo levou a mudanças econômicas, sociais, morais e religiosas.

A Peste Bubônica afetou tanto laicos como clérigos, por exemplo, a morte de pessoas do clero prejudicou a entrega dos sacramentos como a extrema unção, e os ritos do sepultamento também sofreram com a diminuição de padres e o aumento considerável de cadáveres. Os laicos que sobreviveram, fizeram muitas doações, principalmente de terras, para a Igreja em troca da salvação, além da consagração de jovens da família para as ordens religiosas, como forma de agradecimento. Mas, a peste não poupou aqueles mais fiéis a Deus ou mesmo mais devotos e esforçados em pecar menos, alguns não se importavam com agradecimentos, e usufruíram das heranças, já que em alguns casos o número de herdeiros diminuiu com a epidemia.

Logo, a segunda onda de Peste que atingiu a Europa com mais intensidade em meados do século XIV, avançou perdendo intensidade e causando menos mortes até meados do século XVIII. A Peste Bubônica também estava inserida em um contexto de crise, junto com o Grande Cisma, que dividiu a Igreja entre 1378 e 1417; A Guerra dos Cem Anos, de 1337 até 1453, entre França e Inglaterra; Fomes e Penúrias; a Reforma Protestante e a Contrarreforma da Igreja. Assim, a Peste volta regularmente à Europa por vias marítimas e terrestres, principalmente, pelos portos localizados na Península Itálica. Atingindo cidades e vilas, causando muito sofrimento e agonia aos infectados, devastando várias famílias, e alterando o comportamento de todos que sobreviveram à epidemia.  

 

Referências:

BASTOS, Mário Jorge da Motta. O poder nos tempos da peste (Portugal - séculos XIV / XVI). Niterói: EdUFF, 2009. DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente – Uma cidade sitiada. Tradução Maria Lucia Machado. Brasil: Companhia de Bolso, 1989.


UJVARI, Stefan Cunha. A história e suas epidemias. A convivência do homem com os microrganismos. Rio de Janeiro, Senac Rio; São Paulo, Senac São Paulo, 2003.


WOLFF, Philippe. Outono da Idade Média ou Primavera dos Tempos Modernos? Tradução Edison Darci Heldt. São Paulo: Martins Fontes, 1988.


Sobre a autora do verbete:

Jordana Eccel Schio, artista plástica, acadêmica do quinto semestre do curso de História – UFSM, membro do VIRTÙ - Grupo de História Medieval & Renascentista.

E-mail: jordanaschio06@gmail.com

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3602844717231875

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